quinta-feira, 25 de março de 2010

Permita-se




A vida em sociedade me cansa… Sorrisos falsos, reuniões pra não resolver nada, bebida barata, burocracia, trânsito, poluição, stress, cansaço, culto ao corpo. É tudo cinza, caótico e controlado pela antiga ditadura do relógio, e agora pela da balança.

Tem dias em que as pessoas estão no piloto automático. Ninguém se enxerga, ninguém se vê. Já ouvi varias vezes a frase: “mal tenho tempo pra me olhar no espelho”; e quem não se vê, não pode ver o outro. Eu não acho isso normal. Não me acostumo a essa rotina.

Sou do tempo em que mulher tinha que ser feminina, sexy, doce. Sei ser agressiva quando necessário, apesar de na maioria das vezes, essa agressividade ser expressa em forma de decotes, curvas marcadas, perfumes inebriantes e olhares sensualmente fixos na “presa”. Sou do tempo em que mulheres gastavam horas no cabeleireiro, com a diferença de que nunca me preocupei se meu parceiro iria perceber o efeito, sempre tive certeza de que alguém certamente perceberia; nunca foi dinheiro jogado fora.

Mas ninguém passa a se permitir sair do padrão do nada. É preciso que algo aconteça. Meu start foi perceber que, já que eu mesma não me via, passei a ser também invisível. A verdade é essa: ou você vê o mundo com olhos da sexualidade, ou você não vê o mundo com olhos da sexualidade. E ponto. Eu me permito ver o mundo de maneira sexual. Por isso o mundo me vê também assim. Tudo o que me da prazer, eu quero. Eu me permito sentir prazer, na cama e fora dela. Sem modéstia alguma, eu penso que sei viver de forma mais leve que a maioria das pessoas que conheço. Sem culpas, neuroses, com uma carga de cobrança menor. Isso porque eu me permito.

Eu me permito tomar um sorvete num dia quente, andar descalça na areia da praia, ver o pôr do sol em silêncio, tomar uma taça de vinho no fim da tarde, gastar horas cuidando de mim. Eu me permito ouvir minha música predileta, pagar caro num hidratante perfumado, usar um salto mais alto, uma roupa mais justa, um batom mais vermelho. Eu me permito ter curvas, e seduzo com elas. Permito-me um beijo roubado, um amor escondido, um desejo encarnado, sexo proibido. Eu me permito tocar em meu corpo, perder os pudores, usar um brinquedo novo, ser usada. Sim, até para que outros nos usem precisamos de nossa própria permissão… a vida é uma via de mão dupla, se você conhecer as curvas desta estrada, chegará onde quer e com quem quer! Permito-me sim usar e ser usada, desejar e ser desejada, falar e ser ouvida, pensar ou agir por impulso, afinal ninguém é abstêmio toda a vida! Eu me permito um banho demorado, um novo penteado, um amor perdido, uma ferida aberta, uns quilos a mais, uma mentira bem elaborada. Eu me permito uma nova fantasia, um segredo bem guardado, lingerie ousada, cinema com pipoca, tarde de chuva em casa. Permito-me ficar doente, chorar quando triste, gargalhar de felicidade, dançar com crianças, ouvir meus pensamentos e dar atenção aos meus sentidos. Eu me permito uma aventura passageira, um amigo pra vida inteira, uma paixão repentina. Permito-me errar, consertar se for possível. Eu me permito gozar, uma, duas, quatro, quantas vezes for preciso até que meu corpo – e /ou meu parceiro – se satisfaça.

Ao menos uma vez na vida, experimente permitir-se. Vai ser mais fácil encarar a rotina diária, basta fechar os olhos e pensar no que você se permitirá para aquele dia.



(por: Bárbara Fernández)

Nenhum comentário:

Postar um comentário